quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Em “Rio” nós presenciamos uma Rio de Janeiro encantadora, colorida, intensamente regada de práticas esportivas, pessoas em praias, músicas e carnaval - basicamente tudo o que a cidade tem de verdadeiramente maravilhosa, porém acentuada convenientemente para as óticas de uma animação cuja proposta é, acima de tudo, divertir. Por outro lado, “Rio” também não se esconde completamente por trás do glamour das tão exaltadas qualidades da cidade e faz questão de incluir em sua história pequenas passagens na favela - ao demonstrar pela superfície como o local é diferente das entusiásticas praias, do corcovado e afins -, além de ter como vilões de sua trama uma quadrilha que contrabandeia aves. Ainda que apresente um grande número de discrepâncias em relação ao que é realmente a cidade do Rio de Janeiro, o roteiro de “Rio” o faz com temperança, não soando desrespeitoso, tampouco ridículo. E mesmo quando somos apresentados a momentos aparentemente embaraçosos e mal-sugestivos, como quando macacos arremedam os ladrões de turistas ao roubarem seus pertences e quando brasileiros falam inglês fluente, é fácil indultá-los, uma vez que os personagens bilíngues surgem como uma alternativa (preguiçosa, sim, mas vá lá...) para o enredo fluir sem ter de se preocupar com traduções, e os macacos são divertidos e representam de uma maneira inocente o que realmente acontece no Rio de Janeiro - e, francamente, não caberia ao longa de Carlos Saldanha perfazer comentários sociais apropriados, portanto, as meras sugestões espirituosas do diretor acabam funcionando na medida certa. E talvez seja por isso que em circunstâncias onde o diretor tenta criar algum tipo de drama com a situação de um pobre garoto da favela (inclusive revelando a desnecessária desconfiança de um dos personagens para com o menino para ressaltar seu ponto), o filme incomode tanto; além de ser piegas e demasiadamente óbvio, o personagem do garoto é tão mal desenvolvido que vê-lo ao final do filme em certa cena junto dos personagens Túlio e Linda chega a ser banal e ridículo. O balanço da caracterização da história (que usa dos elementos de cena característicos da cultura brasileira e do Rio de Janeiro como interessantes formas de desenvolver sua trama), no entanto, acaba por ser positivo no fim das contas. Só não é positiva a história do longa em si, que carece de bons personagens, reviravoltas e até de humor (embora o filme não tente ser engraçado o tempo todo, ele peca em muitas de suas piadas, enquanto noutras acerta, mas sem tirar mais do que um simples riso do espectador). A narrativa de “Rio” segue uma linha convencional, e seus personagens nunca conquistam empatia o suficiente para cativarem ou nos fazer importar com suas questões. Na mesma marcha anda a trilha instrumental de John Powell, que figura por entre os toques de ação e melodrama sem transpor o padrão de filmes aventurescos. Já as canções do longa surgem sempre divertidas para compor a atmosfera de determinadas sequências (incluindo passagens musicais aqui e acolá; sempre boas em si, mas pouco marcantes e relevantes para o desenvolvimento da história), misturando toques conhecidos da bossa nova e do carnaval com letras originais em inglês. Se aliado às músicas e revelando-se como o verdadeiro mérito do filme está a fotografia e o desenho de produção, que ajudam a compor o deslumbrante e adulador visual do longa, abrilhantando o cenário do Rio de Janeiro tanto durante o dia quanto durante a noite, seja na favela, na praia, no meio urbano ou na floresta. Basicamente, “Rio” é um filme que fica aquém do que propõe. Embora esbanje competência visual, pouco se importa em construir melhores personagens - que sendo aves ou humanos nunca se mostram como figuras fortes e de personalidade - ou uma história desafiadora, original e de momentos dramáticos e cômicos mais refinados. É, ao contrário de muitas animações atuais, cuja emoção e apuro visual andam juntos, um filme que funciona totalmente envolta de uma cidade apenas para tirar dela os mais pertinentes destaques sonoros e visuais e compor um passatempo de diversão vazia, porém minimamente lúdico.  


Um comentário:

  1. Olá meninos
    Parabéns pelo trabalho neste ano.
    Espero encontrá-los em 2012.
    Bjs
    Ana Silvia

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